1917 a 1920 são os anos que entremeiam a Revolução Russa e a
reinvenção do cinema soviético.Com o advento da Guerra Civil todo o sistema de estúdios cinematográficos
anteriores à Revolução fora destruído, juntamente com boa parte de suas
produções.
O novo Estado teve que reinventar e reestruturar sua
atividade cinematográfica. “Sua”, pois se de um lado a estatização possibilitou
um ousado renascimento cinematográfico, do outro deixou o cinema à mercê de
disputas políticas.
Foram nas fileiras do Exercito Vermelho que cineastas russos
deram início às suas carreiras e ao movimento que ficaria conhecido como
Montagem Soviética: Serguei Eisenstein participava da organização de espetáculos
teatrais, Lev Kulechov e Dziga Vertov trabalhavam em noticiários cinematográficos
do front e nas primeiras propagandas da Revolução Russa.
Esta pode ser considerada a grande trindade da Montagem
Soviética.
Lev Kulechov |
Kulechov foi o fundador da teoria da montagem, ponto central
e essência do movimento russo.Em seus artigos defendia um cinema autoral , a
superação da rígida especialização de funções na produção cinematográfica, e o
mais importante: a racionalidade e a continuidade das montagens dentro do
filme.
O cineasta observou que através da montagem o espectador
poderia ser envolvido na trama de tal forma que ela conduzisse suas emoções e
seu entendimento a um fim planejado,
pré-estabelecido.
O objetivo de
Kulechov era o êxtase calculado do espectador e para tanto se valia da continuidade,
da construção narrativa-tijolo por tijolo- através da montagem.
Eisenstein perseguia os mesmos objetivos de Kulechov, porém
utilizando não uma montagem de continuidade, mas de choque. Ambos percebiam o
cinema como linguagem a ser manipulada racionalmente, mas fizeram uso de métodos
diferentes.
O primeiro trabalho teórico de Eisenstein foi - ainda no
teatro- a respeito da “montagem de atrações”.
Sergei Eisenstein |
Neste conceito o cineasta
inaugura aquela que será a linha condutora de sua obra: uma ação sensorial ou psicológica,
matematicamente calculada para produzir determinados choques emocionais no espectador,
possibilitando a compreensão ideológica daquilo que lhe foi exposto. Em outras
palavras, o cineasta objetivava levar o espectador ao conceito ideológico da
trama (conclusão) através do choque de estímulos.
As duas grandes realizações de Eisenstein e seu “cine-punho”
(oposição ao “cine-olho” de Vertov) são “Encouraçado Potemkin”(1925) e “Outubro”
(1927).
O grande confronto teórico da Montagem Soviética foi protagonizado
por Eisenstein e Dziga Vertov. De um lado o “cine-punho”, o confronto, o
choque, do outro o “cine-olho”, apreensão do real invisível, recusa à encenação.
Dziga Vertov |
Vertov trabalhava com construções métricas extremamente
complexas e tornava a reflexão a cerca do olhar uma forma de reconstruir as
imagens e fatos do real. Valia-se do plano subliminar como método para envolver
o espectador num fluxo de imagens tão trabalhadas que se tornavam inapreensíveis
no plano formal.
Não é a toa que o cineasta afirmava: “Por cine-olho
entenda-se: o olho que não vê”.
http://www.youtube.com/watch?v=DwHzKS5NCRc
O link acima leva a uma experiência realizada por Kulechov, na qual um ator sem nenhuma expressão facial é justaposto a algumas imagens que sugerem ao espectador as emoções ou sentimentos vividos por este ator (fome,tristeza,desejo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário